sábado, 21 de maio de 2011

KIT GAY

 EU SOU GAY E PROTESTO CONTRA O KIT GAY!!!

"Um convênio firmado entre o Ministério da Educação (MEC), com recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), e a ONG Comunicação em Sexualidade (Ecos) produziu kit de material educativo composto de vídeos, boletins e cartilhas com abordagem do universo de adolescentes homossexuais que será distribuída para 6 mil escolas da rede pública em todo o país do programa Mais Educação. " (Carlos Lima - Redação O Galieo).
 O Kit Gay, que está causando tanta polêmica, ainda não foi aprovado. Mas trata-se de um Kit que o Ministérios da Educação criou para combater a homofobia nas escola públicas do Brasil.
 Acontece que o Kit tem uma temática muito forte, e fica claro que para as crianças de 7 a 10 anos de idade,faixa etária ao qual ele é destinado, este conteúdo pode mexer com o aparelho ideológico de forma drástica, podendo até chegar a influenciar a maioria a se tornar homossexual. Isso é uma espécie de indução, da mesma forma que o poder conservador induzia a todos de que homem só pode casar-se com mulher, sendo que por trás havia um propósito nessa ideologia implantada pelo poder sistemático que controla a sociedade.
 O Kit apresenta curtos vídeos e o mais comentado é o que tem como título "Conhecendo Bianca", que é uma história narrada por um jovem que conta um pouco sobre sua vida e como se sente sendo homossexual, as dificuldades que enfrenta, suas perspectivas de vida e ideais. O jovem de aproximadamente 15 anos, conta que se sente uma menina, então optou por se chamar Bianca. 
No filme também demonstra assuntos a serem discutidos, como por exemplo um banheiro especial para os homossexuais, bullyng e o tratamento com as pessoas com nome de gênero masculino que preferem ser chamadas de nomes femininos, condizendo a sua personalidade.
 A minha opinião a respeito do filme é que trata-se de um manual prático a promiscuidade, ou seja, ele não está despertando um senso democrático nas crianças, a ponto de deixa-las a par do que é o homossexualismo e fazer com que concluam consigo mesmas sobre suas escolhas e preferências sexuais. O filme parece querer despertar uma sexualidade nas crianças, nos trejeitos dos personagens, nos comentários. Isso pode fazer as crianças verter para o lado homossexual pela simples vontade de experimentar o prazer físico e não por refletirem sobre o que realmente querem.
 Muitas crianças assistem programas onde casais heterossexuais com frequência trocam intimidades fortes e logo podemos perceber a conclusão disso. Elas querem namorar mais cedo, querem experimentar o prazer que tanto assistem na televisão, assim que a ideologia é implantada na cabeça da criança, da mesmo forma esse vídeo pode produzir a mesma reação.
  O Kit Gay, foi criado com uma tamanha falta de habilidade, além de parecer induzir as crianças, pode até gerar a ira dos pais dos alunos, que ao invés de ensinar uma doutrina contra homofobia, podem ficar mais revoltados ainda.
 Eu sou homossexual, e não concordo com a distribuição desse conteúdo nas escolas e como futuro educador acho isso um absurdo. Acredito que deve haver sim, um programa de combate a homofobia na rede pública de educação, mas que seja um material totalmente democrático, que antes de tudo faça com que todos tenham um senso crítico e reflexivo e respeitem qualquer homossexual, posto que também somos seres humanos, com direitos e deveres.
 Por razão da antiga ideia implantada pelo sistema social e grupos religiosos de que homem só poder manter relações sexuais com mulheres, o homossexualismo ainda é  visto como novidade por muitos, lembrando que praticamente desde sempre existiu o homossexualismo. Contudo o tema deve-se ser abordado de maneira correto, com respeito ao ser humano.
 O vídeo também pode estereotipar a imagem no homossexual no Brasil, gerando várias outras complicações. 
 Homossexual é completamente normal em todos os quesitos, pode haver homo com jeito de machão ou mais delicado, é muito variável isso, o vídeo só fixa uma imagem, como se os gays fossem de uma delicadeza e de um frescura bissarra!

Dourado O'haress Jr.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Opinião dourada sobre a novo livro didático.


Concordo com o Marcos Bagno, os puristas, defensores da norma culta imposta a ferro e fogo, sempre me pareceram tipos de pessoas que gostam de viver pelas aparências. Acreditando que demonstrando um perfeito controle da linguagem formal em qualquer tipo de comunicação, as torne mais intelectuais. E defendem uma linguagem que tem para mim um óbvio sentido elitista, adotado por esses almofadinhas patéticos da atualidade.
 Mas de qualquer forma, quem ganha com isso é quem opta por ser mais amplo linguisticamente, ou seja, que leva em consideração as outras linguagens e trate de forma democrática qualquer uma, sabendo onde usa-la e quando usa-la.
 Sempre é bom lembrar que a norma culta é uma variedade linguística de enorme valor, tanto quanto qualquer outra, por isso, apesar de alguém optar por escolher falar uma outra variedade e se apoiar na defesa de que é livre para falar a língua que quiser, necessário será aprender as outras variedades, a norma culta é uma delas. Assim a defesa com base na vontade e na escolha de falar uma determinada variedade, será bem mais valida, uma vez que a pessoa conheceu as outras e optou por uma, do contrário parecerá que, simplesmente por preguiça de aprender as outras variedades ou por acha-las incorretas, estagnou-se em um mesma língua e a defende como fosse uma escolha entre tantas outras variáveis.
 Claro que sempre devemos ter o bom senso de analisar as condições de cada individuo e averiguar a realidade em que se encontra.
 Essa questão da realidade também leva a outra conclusão. Posto que a comunicação acontece quando todos indivíduos envolvidos no processo falarem a mesma língua e quando conhecerem a mesma variedade linguística. E baseando-se no fato de que muitas variedades linguísticas tem seus próprios signos e significados é muito difícil uma única pessoa querer manter um estilo de falar, que aprendeu, quando é inserida em um grupo maior que fala de uma forma diferente, a comunicação pode ser muito afetada.
 Por isso é importante estudar as principais variações, e ter uma base na gramática tradicional, que ainda é a mais usada, para manter uma relação com os indivíduos do mesmo país, sempre procurando valorizar a cultura de cada um.

 E apesar de concordar com a essa variação linguística, que caracteriza a evolução da língua falada, a vivacidade na comunicação. Ainda sou da posição que os textos escritos devem ser redigidos sempre na linguagem normativa ou na Norma Culta Urbana, salvo pelos textos que houverem diálogos, posto que esses devem se aproximar da fala do cotidiano de cada personagem descrito na obra.
 Porque se todo mundo pudesse errar ao escrever, ficaria difícil decifrar as escritas, ninguém ia entender ninguém e tudo iria por água abaixo.

Dourado O'haress Jr.

Novo livro Didático - Por Uma Vida Melhor de Heloisa Ramos

POLÊMICA OU IGNORÂNCIA?

DISCUSSÃO SOBRE LIVRO DIDÁTICO SÓ REVELA IGNORÂNCIA DA GRANDE IMPRENSA

 

Marcos Bagno
Universidade de Brasília 


Para surpresa de ninguém, a coisa se repetiu. A grande imprensa brasileira mais uma vez exibiu sua ampla e larga ignorância a respeito do que se faz hoje no mundo acadêmico e no universo da educação no campo do ensino de língua.
Jornalistas desinformados abrem um livro didático, leem metade de meia páginae saem falando coisas que depõem sempre muito mais contra eles mesmos doque eles mesmos pensam (se é que pensam nisso, prepotentementeconvencidos que são, quase todos, de que detêm o absoluto poder da informação).
Polêmica? Por que polêmica, meus senhores e minhas senhoras? Já faz mais de quinze anos que os livros didáticos de língua portuguesa disponíveis no
mercado e avaliados e aprovados pelo Ministério da Educação abordam o tema da variação linguística e do seu tratamento em sala de aula. Não é coisa de
petista, fiquem tranquilas senhoras comentaristas políticas da televisão brasileira e seus colegas explanadores do óbvio.
Já no governo FHC, sob a gestão do ministro Paulo Renato, os livros didáticos de português avaliados pelo MEC começavam a abordar os fenômenos da
variação linguística, o caráter inevitavelmente heterogêneo de qualquer língua viva falada no mundo, a mudança irreprimível que transformou, tem
transformado, transforma e transformará qualquer idioma usado por uma comunidade humana. Somente com uma abordagem assim as alunas e os
alunos provenientes das chamadas “classes populares” poderão se reconhecer no material didático e não se sentir alvo de zombaria e preconceito. E, é claro,
com a chegada ao magistério de docentes provenientes cada vez mais dessas mesmas “classes populares”, esses mesmos profissionais entenderão que seu
modo de falar, e o de seus aprendizes, não é feio, nem errado, nem tosco, é apenas uma língua diferente daquela – devidamente fossilizada e conservada
em formol – que a tradição normativa tenta preservar a ferro e fogo, principalmente nos últimos tempos, com a chegada aos novos meios de
comunicação de pseudoespecialistas que, amparados em tecnologias inovadoras, tentam vender um peixe gramatiqueiro para lá de podre.
Enquanto não se reconhecer a especificidade do português brasileiro dentro doconjunto de línguas derivadas do português quinhentista transplantados para as colônias, enquanto não se reconhecer que o português brasileiro é uma língua em si, com gramática própria, diferente da do português europeu, teremos de conviver com essas situações no mínimo patéticas.
A principal característica dos discursos marcadamente ideologizados (sejam eles da direita ou da esquerda) é a impossibilidade de ver as coisas em
perspectiva contínua, em redes complexas de elementos que se cruzam e entrecruzam, em ciclos constantes. Nesses discursos só existe o preto e o
branco, o masculino e o feminino, o mocinho e o bandido, o certo e o errado e por aí vai.
Darwin nunca disse em nenhum lugar de seus escritos que “o homem vem do macaco”. Ele disse, sim, que humanos e demais primatas deviam ter se
originado de um ancestral comum. Mas essa visão mais sofisticada não interessava ao fundamentalismo religioso que precisava de um lema distorcido
como “o homem vem do macaco” para empreender sua campanha obscurantista, que permanece em voga até hoje (inclusive no discurso da
candidata azul disfarçada de verde à presidência da República no ano passado).
Da mesma forma, nenhum linguista sério, brasileiro ou estrangeiro, jamais disse ou escreveu que os estudantes usuários de variedades linguísticas mais
distantes das normas urbanas de prestígio deveriam permanecer ali, fechados em sua comunidade, em sua cultura e em sua língua. O que esses profissionais vêm tentando fazer as pessoas entenderem é que defender uma coisa nãosignifica automaticamente combater a outra. Defender o respeito à variedade linguística dos estudantes não significa que não cabe à escola introduzi-los aomundo da cultura letrada e aos discursos que ela aciona. Cabe à escola ensinar aos alunos o que eles não sabem! Parece óbvio, mas é preciso repetir isso a todo momento.
Não é preciso ensinar nenhum brasileiro a dizer “isso é para mim tomar?”, porque essa regra gramatical (sim, caros leigos, é uma regra gramatical) já faz
parte da língua materna de 99% dos nossos compatriotas. O que é preciso ensinar é a forma “isso é para eu tomar?”, porque ela não faz parte da
gramática da maioria dos falantes de português brasileiro, mas por ainda servir de arame farpado entre os que falam “certo” e os que falam “errado”, é
dever da escola apresentar essa outra regra aos alunos, de modo que eles – se julgarem pertinente, adequado e necessário – possam vir a usá-la
TAMBÉM. O problema da ideologia purista é esse também. Seus defensores não conseguem admitir que tanto faz dizer assisti o filme quanto assiti ao filme,
que a palavra óculos pode ser usada tanto no singular (o óculos, como dizem 101% dos brasileiros) quanto no plural (os óculos, como dizem dois ou três
gatos pingados).
O mais divertido (para mim, pelo menos, talvez por um pouco de masoquismo) é ver os mesmos defensores da suposta “língua certa”, no exato momento em quea defendem, empregar regras linguísticas que a tradição normativa que eles acham que defendem rejeitaria imediatamente. Pois ontem, vendo o Jornal das Dez, da GloboNews, ouvi da boca do sr. Carlos Monforte essa deliciosa pergunta: “Como é que fica então as concordâncias?”. Ora, sr. Monforte, eu lhe
devolvo a pergunta: “E as concordâncias, como é que ficam então?


Uma defesa do "erro" de português 

O pessoal pegaram pesado. Da esquerda à direita, passando por vários amigos meus, a imprensa foi unânime em atacar o livro didático "Por uma Vida Melhor", de Heloísa Ramos. O suposto pecado da obra, que é distribuída pelo Programa do Livro Didático, do Ministério da Educação, é afirmar que construções do tipo "nós pega o peixe" ou "os livro ilustrado mais interessante estão emprestado" não constituem exatamente erros, sendo mais bem descritas como "inadequadas" em determinados "contextos".
Os mais espevitados já viram aí um plano maligno do governo do PT para pespegar a anarquia linguística e destruir a educação, pondo todas as crianças do Brasil para falar igualzinho ao Lula. Outros, mais comedidos, apontaram a temeridade pedagógica de dizer a um aluno que ignorar a concordância não constitui erro.
Eu mesmo faria coro aos moderados, não fosse o fato de que, do ponto de vista da linguística --e não o da pedagogia ou da gramática normativa--, a posição da professora Heloísa Ramos é corretíssima, ainda que a autora possa ter sido inábil ao expô-la.
Acredito mesmo que, excluídos os ataques politicamente motivados, tudo não passa de um grande mal-entendido. Para tentar compreender melhor o que está por trás dessa confusão, é importante ressaltar a diferença entre a perspectiva da linguística, ciência que tem por objeto a linguagem humana em seus múltiplos aspectos, e a da gramática normativa, que arrola as regras estilísticas abonadas por um determinado grupo de usuários do idioma numa determinada época (as elites brancas de olhos azuis, se é lícito utilizar a imagem consagrada pelo ex-governador de São Paulo Claúdio Lembo). Podemos dizer que a segunda está para a primeira assim como a pesquisa da etiqueta da corte bizantina está para o estudo da História. Daí não decorre, é claro, que devamos deixar de examinar a etiqueta ou ignorar suas prescrições, em especial se frequentarmos a corte do "basileus", mas é importante ter em mente que a diferença de escopo impõe duas lógicas muito diferentes.
Se, na visão da gramática normativa, deixar de fazer uma flexão plural ou apor uma vírgula entre o sujeito e o predicado constituem crimes inafiançáveis, na perspectiva da linguística nada disso faz muito sentido. Mas prossigamos com um pouco mais de vagar. Se os linguistas não lidam com concordâncias e ortografia o que eles fazem? Seria temerário responder por todo um ramo do saber que ainda por cima se divide em várias escolas rivais. Mas, assumindo o ônus de favorecer uma dessas correntes, eu diria que a linguística está preocupada em apontar os princípios gramaticais comuns a todos os idiomas. Essa ideia não é exatamente nova. Ela existe pelo menos desde Roger Bacon (c. 1214 - 1294), o "pai" do empirismo e "avô" do método científico, mas foi modernamente desenvolvida e popularizada pelo linguista norte-americano Noam Chomsky (1928 -).
Há de fato boas evidências em favor da tese. A mais forte delas é o fato de que a linguagem é um universal humano. Não há povo sobre a terra que não tenha desenvolvido uma, diferentemente da escrita, que foi "criada" de forma independente não mais do que meia dúzia de vezes em toda a história da humanidade. Também diferentemente da escrita, que precisa ser ensinada, basta colocar uma criança em contato com um idioma para que ela o adquira quase sozinha. Mais até, o fenômeno das línguas crioulas mostra que pessoas expostas a pídgins (jargões comerciais normalmente falados em portos e que misturam vários idiomas) acabam desenvolvendo, no espaço de uma geração, uma gramática completa para essa nova linguagem. Outra prova curiosa é a constatação de que bebês surdos-mudos "balbuciam" com as mãos exatamente como o fazem com a voz as crianças falantes.
O principal argumento lógico usado por Chomsky em favor do inatismo linguístico é o chamado Pots, sigla inglesa para "pobreza do estímulo" ("poverty of the stimulus"). Em grandes linhas, ele reza que as línguas naturais apresentam padrões que não poderiam ser aprendidos apenas por exemplos positivos, isto é, pelas sentenças "corretas" às quais as crianças são expostas. Para adquirir o domínio sobre o idioma elas teriam também de ser apresentadas a contraexemplos, ou seja, a frases sem sentido gramatical, o que raramente ocorre. Como é fato que os pequeninos desenvolvem a fala praticamente sozinhos, Chomsky conclui que já nascem com uma capacidade inata para o aprendizado linguístico. É a tal da Gramática Universal.
O cientista cognitivo Steven Pinker, ele próprio um ferrenho defensor do inatismo, extrai algumas consequências interessantes da teoria. Para começar, ele afirma que o instinto da linguagem é uma capacidade única dos seres humanos. Todas as tentativas de colocar outros animais, em especial os grandes primatas, para "falar" seja através de sinais ou de teclados de computador fracassaram. Os bichos não desenvolveram competência para, a partir de um número limitado de regras, gerar uma quantidade em princípio infinita de sentenças. Para Pinker, a linguagem (definida nos termos acima) é uma resposta única da evolução para o problema específico da comunicação entre caçadores-coletores humanos.
Outro ponto importante e que é o que nos interessa aqui diz respeito ao domínio da gramática. Se ela é inata e todos a possuímos como um item de fábrica, não faz muito sentido classificar como "pobre" a sintaxe alheia. Na verdade, aquilo que nos habituamos a chamar de gramática, isto é, as prescrições estilísticas que aprendemos na escola são o que há de menos essencial, para não dizer aborrecido, no complexo fenômeno da linguagem. Não me parece exagero afirmar que sua função é precipuamente social, isto é, distinguir dentre aqueles que dominam ou não um conjunto de normas mais ou menos arbitrárias que se convencionou chamar de culta. Nada contra o registro formal, do qual, aliás, tiro meu ganha-pão. Mas, sob esse prisma, não faz mesmo tanta diferença dizer "nós vai" ou "nós vamos". Se a linguagem é a resposta evolucionária à necessidade de comunicação entre humanos, o único critério possível para julgar entre o linguisticamente certo e o errado é a compreensão ou não da mensagem transmitida. Uma frase ambígua seria mais "errada" do que uma que ferisse as caprichosas regras de colocação pronominal, por exemplo.
Podemos ir ainda mais longe e, como o linguista Derek Bickerton (1925 -), postular que existem situações em que é a gramática normativa que está "errada". Isso ocorre quando as regras estilísticas contrariam as normas inatas que nos são acessíveis através das gramáticas das línguas crioulas. No final acabamos nos acostumando e seguimos os prescricionistas, mas penamos um pouco na hora de aprender. Estruturas em que as crianças "erram" com maior frequência (verbos irregulares, dupla negação etc.) são muito provavelmente pontos em que estilo e conexões neuronais estão em desacordo.
Mais ainda, elidir flexões, substituindo-as por outros marcadores, como artigos, posição na frase etc., é um fenômeno arquiconhecido da evolução linguística. Foi, aliás, através dele que os cidadãos romanos das províncias foram deixando de dizer as declinações do latim clássico, num processo que acabou resultando no português e em todas as demais línguas românicas.
A depender do zelo idiomático de meus colegas da imprensa, ainda estaríamos todos falando o mais castiço protoindo-europeu.
Não sei se algum professor da rede pública aproveita o livro de Heloísa Ramos para levar os alunos a refletir sobre a linguagem, mas me parece uma covardia privá-los dessa possibilidade apenas para preservar nossas arbitrárias categorias de certo e errado

Hélio Schwartsman 
44 anos, é articulista da Folha

terça-feira, 17 de maio de 2011

A FOME DA CORUJA

A Fome da Coruja

Coruja, essa ave strigiforme
 É meia-noite e ela vem me assolar
 A ave está com fome
 Sente cheiro de idéia no ar

 Levanto e peço inspiração
 Ela gira a cabeça em rotação
 Como dissesse:
 - Tem inspiração
 Em tudo quanto é direção

 - Agora não coruja!
 Não pie para eu não morrer
 Espera que a inspiração já vem
 Já já você vai comer

Escrevi a punho e tinta
Com bico de pena de coruja
A luz não estava ausente
Era o reflexo do Sol na Lua

- Terminei, aqui está coruja
 Obra de minha sabedoria
 Agora engula tudo por inteiro
 E vai-te embora toda via

 Ela voou sem fazer euforia
 No meio da meia-noite fria
 Ainda dizendo em minha mente
Não tem hora para sabedoria

Dourado O'haress Júnior

Comentário Pessoal: Escrevi esse texto por volta da 00:15 até 00:50 quando me sobreveio uma idéia de brincar com os textos do Edgar Allan Poe sobre o Corvo que aparece Meia-Noite e o Morcego de Augusto dos Anjos que também aparece meia-noite. Incrivelmente era meia-noite então decidi escrever. (Risos)
 Meu texto fala sobre a coruja com fome de sabedoria, pois ele representa a sabedoria em muitas culturas. Nisso ela vem me assombrar a noite, até que eu sacie a fome dela. Então levanto escrevo esse texto e dou de comer a ela.

 Depois de saciada ela vai embora, mostrando que de fato não existe hora para sabedoria, para a criatividade, quando a idéia chega na nossa cabeça, ela fica martelando até a gente colocar ela para fora, não é assim que acontece? Pois idéia sem ação é idéia morta.
 Enfim, a coruja dentro de mim clamava por esse texto a meia-noite, um texto divertido que assemelha-se aos textos de Edgar e Augusto, que falam de aves e a meia-noite, ambos são muito simbolistas quando falam a respeito dessas aves, e o que se entende é que as aves sempre estiveram na mente deles, assim como no meu texto.
 Outra coisa interessante é a interação com a ave, no texto do Augusto é a conciência que pesa, ele ataca o morcego, no do Edgar ele conversa com o corvo, faz perguntas as quais o corvo responde categoricamente: "Nunca mais".
 Já no meu texto da coruja ela vem me perturbar para por uma idéia para fora e fica me assombrando até eu fazer a vontade dela que é ver minha idéia em ação, esse é seu alimento. Ela gira a cabeça em uma linguagem não verbal, que eu mesmo como personagem do texto entendo ser um sinal de que há inspiração em todo lado e ainda falo para ela ficar quieta e não piar para eu não morrer, dou de comer para ela e mando ela ir embora todavia para eu dormir em paz, porque se eu digo que levantei no texto, da para pressupor que eu estava sentado ou deitado, que é o mais provável na meia-noite